“Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás?” - (Gênesis 3.8, 9)
Nestes dias enquanto estava lendo o livro de Gênesis, meus olhos fixaram-se neste texto. Um texto bastante conhecido, mas, que falou profundamente ao meu coração, exercendo sobre mim um grande poder pedagógico. Pois ele me fez pensar um pouco na constante busca de Deus pela companhia do homem.
Quando lemos este texto podemos observar que ele não tem nada a ver com a incapacidade de Deus de nos encontrar, pois é evidente a impossibilidade de nos escondermos Daquele que “Todas as coisas estão descobertas e patentes aos seus olhos.” – (Hb 4.13) – mas tem a ver com a constante tentativa do homem de fugir da presença Dele.
– Filho, onde estás?
Posso ver nesta declaração o interesse de Deus em encontrar o homem que Ele mesmo criou com tanto amor, e que agora insiste em “fugir” da presença Dele.
Nas entrelinhas deste texto, posso perceber Deus nos momentos e lugares mais inusitados da historia do homem tentando-o encontrá-lo.
Mas parece que existe no homem uma necessidade constante de fugir desta presença. Para ele existe sempre uma desculpa, uma explicação, uma forma evasiva de fugir da presença de Deus.
Embora seja uma constante na vida do homem, mesmo assim, fico impressionado e muitas vezes chocado com as formas e lugares que o homem encontra para se esconder desta presença.
Vamos ver no exemplo de Adão que ele tenta fugir da presença de Deus se escondendo atrás das árvores do jardim – (V. 8), afinal, ele acreditava que ali Deus não o encontraria. Que Deus não o enxergaria.
E Hoje, não muito diferente de Adão, tentamos nos esconder também atrás de diversas coisas, como por exemplo, o nosso emprego e a nossa muita ocupação.
E o que é pior. Além de roubarmos o tempo que era destinado para Deus, ainda por cima tentamos entorpecer a nossa mente e o nosso coração com desculpas do tipo:
“Estou ocupado demais com o meu trabalho. Tenho que prover os recursos para sustentar minha família e a tua causa, e por isso não sobrou tempo para te encontrar Senhor!”
Ou talvez, nossa fuga seja atrás da nossa família, com suas implicações e cuidados. Pois é comum nos encontrarmos dizendo:
“Minha ocupação com a Família é muito grande e não me sobra tempo para me encontrar com o Senhor”. Ou então, “Tenho uma mãe doente e que precisa de cuidados. Não tenho tempo para o Senhor agora”.
Ou quem sabe talvez, estejamos fugindo atrás da nossa falta de saúde. Afinal todos nós temos limitações físicas.
Eu poderia falar a respeito de inúmeras formas que assim como Adão, desenvolvemos para tentar fugir da presença de Deus.
Mas eu gostaria de falar de uma que com certeza é a pior de todas. É aquela que mais me enoja. É a tentativa de nos escondermos Dele atrás da igreja e das suas produções.
Talvez você esteja dizendo agora:
“Senhor estou ocupado demais com as minhas obrigações religiosas. Ocupo muitos cargos e também estou à frente de muitos trabalhos na Igreja. Afinal preciso defender tua causa!”
Estas são declarações e práticas comuns em nosso meio. Estou cansado de ver pessoas sem tempo para Deus, mas atarefadas com as coisas da “Religião”.
Gente que não tem nenhum interesse em construir um relacionamento sério e afetivo com o Senhor, mas sim, em se destacar diante das pessoas como aquele que desenvolve bem os “cargos e ofícios” a ele proposto.
Gente que “mata e morre” pelo cumprimento da “tarefa religiosa”.
Gente que passa por cima das outras pessoas se possível for, para cumprirem satisfatoriamente seus “papéis cristãos”.
Com isso eu me pergunto:
O que é verdadeiramente importante para o Senhor? O que de fato Ele requer de mim?
Posso afirmar que não tem nada a ver com este ascetismo religioso a nós cobrado e vivido hoje.
E se assim o é, então porque tentamos tanto fugir da presença dele?
Porque nos escondemos atrás de tantas coisas?
E, porque precisamos sempre de um lugar para nos esconder Dele?
A única resposta para todas estas perguntas é bastante simples:
Tentamos fugir ou se esconder da presença de Deus porque não queremos contemplar a sua face, porque ao contemplamos a face Dele, nos deparamos com a nossa também, e é disso que procuramos fugir.
Porque diante da presença Dele nos vemos como realmente somos. Pois igualmente a Adão, estamos nus, despidos de toda a nossa indumentária religiosa.
Diante da presença Dele não há lugar para as nossas máscaras, nem para nossas “performances”, nem para as nossas “pantomimas”. Diante da presença Dele nos vemos como somos, e assim percebemos os monstros e dragões que habitam o nosso interior, e é disso que temos medo.
Que o Senhor nos conceda a graça de sermos humanos, ainda que nus, envergonhados, sem nada a apresentar, mas acima de tudo, homens sinceros, sem mascaras diante Dele, sem evasivas, sem desculpas, sem fugas.
Que o Senhor possa nos encontrar na nossa nudez, para que Ele nos vista com as vestes da graça e do amor do sacrifício do “cordeiro de Deus”.
Em Cristo,
Aquele que nos ama mesmo estando nus.
Seu amigo na Web
Gilson C.
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