A igreja primitiva desde o seu nascedouro e até meados do terceiro século tinha um grande interesse na doutrina da Parousia. Mas com o passar do tempo ela começou a ser esquecida e até rejeitada.
Isto se deu por causa das inúmeras previsões de datas sem sucesso da volta de Cristo, e por causa das diversas heresias criadas pela má-interpretação dos textos sagrados. Tudo isto gerou na comunidade cristã, uma má reputação desta doutrina, e até uma descrença na volta de Cristo.
E ainda hoje não é diferente.
Pois percebo que a Parousia continua sendo uma verdade quase que esquecida em nosso meio. E esta indiferença se dá por várias razões.
Primeiro, por causa do nosso pragmatismo funcional, que exige que todas as nossas crenças possam produzir um fim prático.
Segundo, por causa do nosso espirito imediatista, que busca sempre obter uma vantagem, e isto de forma imediata. Coisas para o além, não desperta em nós interesse.
“Não queremos o céu de amanhã, pois é coisa pro futuro, queremos a benção da cura, da prosperidade, e do sucesso, que é pra hoje”.
Frases como estas demonstram o espirito que rege a comunidade denominada evangélica de hoje.
Outra coisa que nos distancia da Parousia hoje, é o mundanismo que se apossou de nós. Que nos faz viver uma vida totalmente apegada a “coisas”, a “prazeres”, e a “satisfações” terrenas. Nos fazendo esquecer que somos peregrinos neste mundo, e que o nosso alvo é o céu, e que os nossos olhos precisam está fitos nele, numa vida vindoura, e não apenas numa existência na terra.
Na verdade, a Parousia é uma realidade que se contrapõe a toda e qualquer situação de conforto e prazeres mundanos.
Diante deste quadro, eu acredito que precisamos fazer o caminho de volta, e reacender em nossos corações, a chama da esperança deste grande dia.
A crença na Parousia produzia na vida da igreja um estilo próprio de ser e de se comportar. Ela delineava e estabelecia os contornos da vida comunitária da igreja. Tudo girava em torno da esperança deste grande dia. Ela tinha o poder de gerar no coração da igreja várias atitudes.
E a primeira delas era uma disposição para o serviço.
A comunidade cristã sabia que entre a ascensão de Jesus e o seu retorno, existia uma lacuna de tempo, e este tempo não era de descanso, mas de serviço.
Eles de fato entenderam as palavras do sábio Salomão que dizia:
“Tudo quanto te vier á mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” - (EC 9.10)
E por isso aplicaram todos os seus esforços na realização do serviço do mestre. Sendo encorajados pelo exemplo do próprio Jesus que disse:
“É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” - (Jo 9.4)
Era como se as palavras de Jesus lhe ecoassem aos ouvidos a todo instante. Levando-os a viver uma vida de compromisso com a obra de Deus. Eles de fato compreenderam o significado da palavra “dispenseiros” conforme a parábola dos talentos em Mateus 25.14-30. Pois eles criam que, quando o Senhor voltasse, ele iria recompensar a cada um, conforme aquilo que tinham feito.
“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o vosso coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo”. - (Cl 3.23,24)
Outra coisa que a Parousia gerava no seio na igreja, era uma viva esperança do futuro.
Na verdade, existia no coração da igreja uma certeza de futuro garantido. Eles sabiam que em Cristo, existia um além, por isso os seus olhos estavam sempre voltados para o futuro, e não simplesmente, para o triste e iminente presente.
Paulo vai nos falar a cerca desta viva esperança com muita propriedade, quando escreveu dizendo:
“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada”. - (Rm 8.18)
Para a comunidade cristã, o futuro reservava para eles coisas muito mais além.
Coisas estas que: “nem os olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. - (1 Co 2.9)
Esta era a esperança que nutria a igreja. Que dava forças para ela enfrentar os desafios, as perseguições e até mesmo, o martírio. Pois todos eles tinham os olhos fitos no céu. Numa vida além, desta tão sofrida vida.
Eles sabiam que todas as recompensas que o Senhor prometera, estava no povir, por isso não esperavam por nada desta vida. Eles não se contentavam com as bênçãos temporais, eles esperavam aquele grande dia, onde o Senhor os levaria para um lugar infinitamente melhor, para receberem uma benção que era infinitamente maior.
“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a está vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” - (1 Co 15.19)
A Parousia também gerava na comunidade cristã, um incessante louvor.
A esperança deste grande futuro desembocava num continuo louvor.
Eles cantavam a glória deste grande dia. Do grande encontro com aquele que era o Senhor da igreja. E das benesses que estavam no povir.
A comunidade estava continuamente reunida para louvar o Senhor. Um louvor desprendido, independente se eles estavam no templo, nas casas ou na prisão. Eles sempre louvavam.
O livro de Atos vai nos contar vários exemplos desta disposição e desprendimento para louvar o Senhor:
É o caso de Paulo e Silas que vão para prisão, e mesmo assim louvam ao Senhor independente das circunstâncias, pois olhavam para o além.
É o caso de Estevão que mesmo diante da morte louva o Senhor por aquilo que vê além, e não apenas o que está diante dos seus olhos.
É o caso de vários outros personagens bíblicos, que caminham nesta vida como peregrino, pois sabem que a grande festa se dará no fim da caminhada.
Este era o espírito que permeava a comunidade cristã. Pois eles entendiam que todas as coisas convergiam para Cristo. E que todo mal, toda perseguição, toda dificuldade desta vida não era o fim, mas apenas parte da grande caminhada da fé. Pois o fim – e o melhor, ainda estava por vim.
Todas as bênçãos desta vida era apenas projeção, mas naquele dia, tudo seria real e infinitamente melhor.
E todos naquele dia, juntos com os anjos diremos a uma só voz:
“Digno é o Cordeiro que foi morto de receber a honra, a glória e o louvor pelos séculos dos séculos. Amém!”. - (Ap 5.12, 13)
Gostaria de concluir fazendo menção das palavras do escritor de Hebreus que disse:
“Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará.” - (Hb 10.37)
Jesus vai voltar. Mas enquanto isto não ocorre, mantenhamos firme a nossa viva esperança, e façamos o nosso melhor para Ele. Pois ele, é a razão do nosso cantar e do nosso existir.
Sigamos o conselho do Apóstolo Tiago que diz:
“Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima.” - (Tg 5.8)
Amém.
Em Cristo,
Aquele que prometeu voltar para nos buscar.
Seu amigo na Web
Gilson C.
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